Em cada traço que se liberta na tela, seja em uma abstração profunda, em uma arte conceitual que desafia o olhar ou em uma pintura figurativa que revela novas perspectivas, meu processo criativo nasce invariavelmente da livre experimentação. Há um impulso inegável de buscar novas descobertas na pintura, uma semente plantada muito antes das técnicas e dos conceitos formais. Essa semente, acredito, floresceu em minha infância.

Raízes na Liberdade: Infância, Natureza e o "Menino Arteiro"

Lembro-me de uma primeira infância repleta de movimento, curiosidade e alegria. Cresci em uma casa com jardim, árvores para escalar, galinhas ciscando e cachorros a brincar. Mexer na terra era um portal para a descoberta, e a ludicidade se manifestava em cada gesto, em cada "graça" que eu fazia para as visitas, influenciado por tios igualmente "palhaços" e criativos. Era um tempo de expansão e conexão genuína com o que é natural e espontâneo.

No entanto, essa liberdade encontrou suas primeiras barreiras. A rigidez familiar, o culto ao perfeccionismo e a visão de que havia um caminho "certo" e um "errado" podaram minhas asas. Aos nove anos, a mudança para um apartamento transformou a experiência de viver em uma espécie de "gaiola". O desejo de me movimentar, correr e pular colidia com as paredes do novo lar. Quebrar objetos era quase um rito de passagem, e a punição por essa "arte" me rotulava como "menino arteiro". Essa fase, dos 9 aos 14 anos, foi um período de anseio por um espaço que não me confinasse, que permitisse a manifestação da minha verdadeira essência.

A virada veio aos 14 anos, quando meus pais se mudaram para a Bahia. Ali, pude, finalmente, desatar os laços da gaiola. Voltei a ser livre, a correr pelas ruas, a jogar bola, a empinar pipa e a me banhar com frequência nas águas do mar. A natureza e a vastidão reconectaram-me com o meu eu mais autêntico.

Despertar e Mergulho: Da Resistência aos Caminhos da Arte

Minha jornada acadêmica inicial não espelhava essa paixão. A escola formal era um terreno de resistência, onde notas medianas eram a meta suficiente para evitar a "recuperação" e mais tempo em sala. O verdadeiro interesse pelo aprendizado só despertou na faculdade de Design, quando a curiosidade inata que me guiava na infância ressurgiu. Essa redescoberta me impulsionou a aprofundar meus estudos no exterior.

Em 2011, dei um passo mais formal em direção à arte, com cursos livres de pintura e desenho. Eles foram cruciais para solidificar uma base técnica que se somou à minha formação em design. Contudo, percebi que a exuberante criatividade que pulsava em mim ainda buscava uma ponte, uma forma de se integrar às técnicas da pintura clássica sem perder sua alma espontânea.

A Epifania da Ludicidade: Encontrando o Elo Perdido

A verdadeira revolução aconteceu com a pós-graduação em Desenvolvimento Lúdico e Criativo de Pessoas (Transludus). Foi um divisor de águas. Finalmente, compreendi a profunda origem da criatividade que floresce através do brincar, da experimentação livre e do poder dos vínculos. Essa percepção reverberou em minha alma, conectando pontos de toda a minha trajetória.

Esse novo olhar me levou a pesquisar os processos criativos de artistas que sempre admirei. Descobri que muitos deles, como os mestres da Bauhaus, Paul Klee, Kandinsky e Johannes Itten, desafiavam o convencional, buscando formas de experimentação, contato com a natureza e, sim, a ludicidade em suas práticas artísticas. Eles, de certa forma, já dialogavam com o "ainda não manifesto", pavimentando um caminho que eu buscava instintivamente.

Nasce a Vivência InArt: O Portal para a Essência Criativa

Com essa nova lente, em 2018, deixei a agitação da grande cidade e me estabeleci em uma pequena vila de pescadores no sul da Bahia – um retorno simbólico à liberdade e à natureza da minha infância. Ali, com o apoio fundamental de minha esposa, criadora da Transludus, comecei a moldar uma metodologia singular. Passei a oferecer vivências que uniam arte, ludicidade e autoconhecimento, criando um espaço onde as pessoas pudessem mergulhar em si mesmas, como se estivessem adentrando um "jardim multicolorido".

Esse processo de livre experimentação, enriquecido pelas ferramentas da ludicidade, tornou-se o cerne dos meus cursos. Acredito que a arte é um portal para a transformação, e meu desejo é compartilhar essa jornada, convidando outros a despertar a arte que há em cada um. Por isso, neste ano, atualizei e aprofundei as bases do meu curso, rebatizando-o como InArt – uma imersão que celebra a conexão interior, a expressão autêntica e a alegria de cocriar a vida em sua mais bela versão.

No InArt, não buscamos a perfeição na tela, mas a descoberta processual e divertida da sua "Essência Criativa" – aquela parte livre de condicionamentos, capaz de dar saltos intuitivos que reverberam em todo o viver. É um convite para você descobrir e expressar o Ser Cocriador que pulsa em seu interior. Para mim, essa compreensão profunda de minha própria jornada e da ludicidade como motor do criar é o que me impulsiona e me dá forças para seguir. É uma forma de honrar a criança livre que fui, aquela que amava o brincar e a experimentar sem amarras, e de oferecer esse portal de redescoberta a cada participante do InArt.